O 14º Encontro Nacional de Presbíteros foi realizado no Santuário de Aparecida / SP, de 01 a 07/02/2012. Estiveram presentes 400 padres, representado as dioceses do Brasil. Este encontro acontece a cada dois anos. Eu, Pe. Gildo e o Pe. Saulo Faccin estivemos representando a nossa Arquidiocese de Santa Maria. Do Rio Grande do Sul havia 32 padres. O tema do encontro foi: "A identidade e a espiritualidade do Presbítero, no processo de mudança de época". A homilia do Bispo Dom Jaime Spengler (texto abaixo), proferida na conclusão do nosso encontro no dia 07/02, sintetiza e expressa muito bem o que refletimos nestes dias. Diante da imagem de NS Aparecida rezei também por todos os paroquianos, comunidades, pastorais, lideranças e famílias da nossa paróquia.
HOMILIA DA MISSA DE ENCERRAMENTO
14º ENCONTRO NACIONAL DE PRESBÍTEROS
14º ENCONTRO NACIONAL DE PRESBÍTEROS
(1Re 8,22-23.27-30; Mc 7,1-13)
Caros irmãos no ministério:
Aqui viemos como delegados de nossos presbitérios, para, na casa da Mãe Aparecida rezar, estudar, refletir, meditar sobre as nossas coisas, nossa vida, identidade e espiritualidade. E depois destes dias aqui reunidos, nos preparamos para retornar para nossas casas, presbitérios, dioceses para levar aos co-irmãos aquilo que aqui vimos e ouvimos, discutimos e decidimos.
Talvez continuemos a nos perguntar: mas qual, afinal, é a identidade do presbítero? Nas nossas conversas, certamente não queríamos chegar a definições, mas nos esforçamos para ampliar a compreensão. E nesse contexto poderíamos certamente afirmar que a identidade presbiteral consiste em querer de todo o coração, livre, gratuita e cordialmente, em tudo e por tudo, cultivar em nós os sentimentos que foram os de Cristo Jesus; Ele que em tudo buscava fazer a vontade do Pai! E como podemos de algum modo perceber quais eram tais sentimentos? Os Evangelhos estão, sempre e de novo, i.é., de forma nova, nos recordando, nos apresentando tais sentimentos: compaixão, cuidado para com a vida - especialmente dos mais fragilizados, solidariedade , amor sem medidas, sem reservas... É, portanto, no confrontar-se, no medir-se, no alimentar-se com o Corpo da Palavra – o Evangelho - que podemos ir vislumbrando com maior nitidez em que consiste a nossa identidade.
E a espiritualidade? São tantas as expressões! E essa multiplicidade de expressões pode nos confundir; e ai podemos perder o foco. E, no entanto, a espiritualidade tem a ver com evidência, com um ver claro, distinto, límpido, cristalino, casto; tem a ver com uma compreensão a respeito do Espírito do Senhor e seu santo modo de operar; compreensão esta que jamais é estática, fixa - o que seria uma contradição, pois o Espírito tudo renova e revigora, tudo alimenta e sustenta! Espiritualidade tem a ver com uma disposição de espera do inesperado, prontos para o que ‘der e vier’, qual disposição própria de filhos amados do Pai, discípulos engajados do homem que passou por entre nós fazendo o bem.
Como homens de Deus, estamos atentos ao ritmo da história, do mundo. Falamos hoje de mudança de época. O que antes era certeza, até bem pouco tempo, servindo como referência para viver, tem se mostrado insuficiente para responder a situações novas. A mudança de época afeta os critérios de compreensão, os valores mais profundos, a partir dos quais se afirmam identidades e se estabelecem ações e relações, as quais estão sempre sendo sustentadas por uma espiritualidade . Estes tempos nos afligem e angustiam; mas também nos desafiam a discernir na força do Espírito Santo os sinais dos tempos... São tempos propícios para volta às fontes, busca dos aspectos centrais da fé; determinação para não colocar outro fundamento que não seja Jesus Cristo... Certamente esse é um tempo em que, através de “novo ardor, novos métodos e nova expressão” procuramos e procuraremos responder missionariamente à mudança de época com o recomeçar a partir de Cristo . Vemos, assim que na atenção à história, ao mundo, ao clamor de nossos irmãos e irmãs na fé, às indicações do próprio Deus, nossa compreensão do ser presbítero também se amplia, se aprofunda, cresce! E em tudo isso o nosso encontro foi de auxílio precioso!
O Evangelho de hoje nos fala de autenticidade, de integridade, de pureza, de estar limpos, qual condição para não esvaziar a palavra de Deus. O culto agradável a Deus não está relacionado a meros preceitos humanos. A tradição dos homens não pode ocupar o lugar do mandamento de Deus. O mandamento de Deus não pode ser anulado! E todos nós sabemos que o mandamento de Deus está condensado no AMOR. Amar sem medidas, sem reservas, sem porquês, sem para que; amar porque Deus ama; Deus é amor; o amor é Deus!
O coração está relacionado ao amor. Por isso, o coração não pode estar longe de Deus! O coração é o lugar das escolhas, das decisões; é onde a pessoa vive na sua verdade. Daí a necessidade de cuidar dessa dimensão tão humana, capaz de coisas terríveis – é do coração humano que nasce toda espécie de maldade! Mas é também por meio dele – do coração – que podemos nos aproximar do divino, do Eterno.
Então, talvez, a liturgia da Palavra esteja hoje nos lançando um apelo para um modo verdadeiro e autêntico de viver, agradável e aprovado por Deus; e que tomar distância desse modo de viver significa afastar-se de Deus. É difícil ter evidência sobre esse modo de viver, mas todos nós podemos intuí-lo, podemos vislumbrá-lo.
Por isso, parafraseando a oração de Salomão, rezamos:
Senhor, tu és fiel à tua aliança com teus servos que andam na tua presença de todo o seu coração... Atende às preces e aos clamores que teus servos fazem hoje em tua presença... Eles querem estar no mundo como teus seguidores fiéis, como presbíteros – Escolhidos entre os homens e constituídos em favor da humanidade; como defensores e promotores da vida, especialmente lá onde ela se encontra ameaçada, pisada, ignorada.
Caros irmãos no ministério,
Cuidemo-nos uns dos outros. Deixemo-nos cuidar uns pelos outros. Não tenhamos medo de mostrar e dizer que gostamos do que somos e fazemos, pois sabemos de nossa identidade, temos uma espiritualidade que nos sustenta!
Que o Pastor bom, o Pastor de nossas vidas nos oriente pelos caminhos da história. Que Ele afaste de nós o medo! Vivemos uma época privilegiada: uma mudança de época! Somos sujeitos, arautos, partícipes na construção do novo.
Que Deus nos oriente e nos ajude nessa tarefa!
(Dom Jaime Spengler)
